Oceano de paixões
(14/08/04)
A primeira vez que o vi foi a muito tempo atrás
Tempo de inocência e de crenças infantis
Descobri que era belo
Me encantei pela beleza
E pensei comigo mesmo
“Este é o meu ambiente e só nele serei feliz”
Nele meus pés coloquei,
Senti sua umidade e calor
E este calor irradiou-se
Entorpeceu todo meu corpo
Transformado em libido pueril
E assim fiquei por muito tempo
Curtindo cada momento
Arrisquei água ao joelho
Caminhei pouco mais a dentro
Enebriado de corpo e alma
Imaginando o momento propício
Para mergulhar de cabeça
E assim por anos fiquei.
Eis que, certo dia
Achando me pronto para a aventura
Neste mar me aventurei
Desconhecia, porém,
Que ele reservava surpresas
Que ele é cheio de truques cruéis
E assim, tolo e faceiro
No mar me afoguei
Morto fui ao fundo
Tive meu corpo corroído
Pelas criaturas do mar
Via demônios e achava
Serem anjos celestiais
Ali fiquei, morto e decomposto por anos a fio
Um dia, sabe Deus porque
Do mar fui vomitado
No meu corpo carcomido
Carne e sangue se criou
Recobrei a consciência
Quando vi, ressuscitei!
Mas tal oceano ainda exercia fascínio
Necessito seu calor, sua pureza e ternura
Mas desta vez me preparo
Pois bem sei que és traiçoeiro
E julgando-me bem preparado
Surge oportunidade
Me lanço ao mar novamente
Novamente sou tragado
Porém desta vez, mesmo morto
Tenho consciência
Tenho que do mar sair para poder ressucitar
Ressureto juro a mim mesmo
Nunca mais me aventurar
Mas pouco tempo passado
Novamente sou impelido
De novo pra dentro do mar
Penso, medito, reflito
Desta vez será diferente:
Vou entrar passo a passo
Ao menor sinal de perigo
Dou meia volta
Volto ao abrigo, volto para a praia
E assim vou seguindo,
Com extrema precaução
Mas ao primeiro descuido
Vou ao fundo, me afogo
Agora pela terceira vez
E ali jaz o meu cadáver
Estendido na areia
Novamente pelo mar rejeitado
Fim da linha, alguém diria
Porém bem sei eu
Que mesmo morto acumulo energia
Pra ressucitar, alma, corpo e tez
Pra tentar tudo de novo
E quem sabe, morrer outra vez