BANDIDO OU VÍTIMA ?
BANDIDO OU VÍTIMA ?
Eu sabia que era um feto,
Sem ver o mundo, com falta de afeto.
O sofrimento, percebido
No ventre daquela que me gerava,
Era melhor que tivesse morrido.
Sabia que fora a barra pesava !
Mãe, não é aquela que nos cria e dá amor ?
Esta, bebia, fumava, não me acariciava...
Minha vida já se tornava um horror !
Com poucos meses, junto dela já apanhava,
De um homem que teria que chamar de senhor.
Nasci, não sei se é isso mesmo,
De um orgasmo obtido a esmo,
Acho que foi meio sem querer,
Mas cheguei e tinha que viver.
O que é a vida, apanhar e ficar sem comer ?
Eu tinha que crescer, fugir, desaparecer.
Lancei-me mundo afora,
Pois era chegada a hora,
De tomar uma decisão :
Deixar os pais e irmãos.
A fome era medonha,
Uma existência enfadonha,
Tinha que pedir pra comer,
Deixar de ter vergonha,
Aprender a nada temer.
Era difícil à beça,
Quem passa fome, atesta :
Um dos piores sofrimentos
é a falta de alimento.
Os outros são complementos,
Viver sem documentos
Passar frio e calor,
Sentir falta de amor.
Vai-se perdendo o sentido,
Não contar com amigos,
Pois são colegas de sofrimento
único assunto é o lamento.
Mas temos inteligência
E se usa como quer,
Seja homem ou mulher
Para sua subsistência.
Arrumar serviço de que jeito ?
Com currículo vazio,
Inseguro, sem respeito,
Pior que um bicho no cio !
Vamos para o mais " certo " :
vícios, pra disfarçar a fome,
Roubar o que estiver perto,
Ataquemos então, o homem.
Uma colinha pra cheirar,
Maconha para fumar,
Depois vícios mais fortes,
Perdendo o medo da morte.
Mas tudo tem que ser pago,
senão seu lugar fica vago.
Chega o dia das algemas,
Trauma a crianças pequenas
Mas enfim, vamos estudar,
Na FEBEM, há vestibular.
Muitas surras de detentos,
De funcionários nojentos,
E o ódio é alimentado
Cada vez mais revoltado
Quero sair da prisão :
Vem a primeira rebelião.
Aí se vive escondido,
E cada vez mais sofrido,
Com rancor no coração,
Vivendo mais sem razão.
São vários recolhimentos,
E a escola neste momento,
É a faculdade / prisão.
Nem imagina, irmão !
São tantas coisas horrendas,
Dá pra escrever as lembranças
Fazer delas oferenda
Para futuras crianças.
Mas não adianta nada,
Nesta terra conturbada,
Pobre tem vez não,
Apodrece na prisão,
Ou morre matado, então.
Eu, às vezes me pergunto :
Viver uma vida dessa ?
Prefiro virar defunto,
A ninguém ela interessa.
E a culpa é de quem ?
Apesar de analfabeto,
Ouvia, ficando quieto,
Que existe esse alguém.
Quem nos nega educação,
Saúde, nem se fala, então
Não há chances de trabalho,
E só sei jogar baralho,
É a minha profissão.
Mas sou tido como bandido,
Ofereço muito perigo,
A toda população
Por todos sou temido,
Um câncer à nação.
Agora, com experiência,
Descobri com paciência,
Nessa passagem perdida
Quem me deu essa " vida " ,
Meus verdadeiros pais.
Deram - me muitos " irmãos ",
Não dos dois miseráveis,
Porém pessoas notáveis
São os reis da corrupção !
Auro ( Não defendendo bandidos, mas entendendo o seu por quê e a multiplicação).
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