DÉCIMA DO AMOR FALIDO

I

Disseste um dia ser eu assim

Mulher inteira, cabocla loira, menina,

Virtuosa, solo fértil, semente

E fruto, tua esposa amada até o fim.

II

E me disseste um dia, por estar só,

Meu seria teu nome, por ser eu

A dama de honra de tua casa,

Dessa estirpe falida e destinada ao pó.

III

E me disseste um dia que eu seria

Sem sombra de dúvida ou de engano

Positiva vibração, teu dinamismo,

Tua larga, clara, vibrante alegria!

IV

E me disseste um dia, que não serias

Mais de outra, por teres encontrado

Em mim o amor primeiro e único

Que completo e farto, homem te fazia.

V

E me disseste ser eu tua única amiga

E verdadeira irmã e companheira

Como um escudeiro, o braço direito,

O que é novo e vem de vida antiga.

VI

E me disseste que doente ou ferido

A mim, só a mim, querias ao teu lado

Para cobrir tua vergonha ou fraqueza

E amparar o só e enfraquecido.

VII

E me disseste um dia que querias

Morrer comigo ao mesmo instante,

Para que nem tu nem eu sofrêssemos

A dor que um ou outro, sozinho, sentiria.

VIII

E nos disseste um dia, que em tempo algum,

Nem cem, nem em mil anos

Se contaria história igual à nossa

Ou amor tão belo, eterno, incomum.

IX

E me disseste tanta coisa e tanto

Me disseste e tanto acreditei,

Que neste parto, quedo-me agora

Pasma e estupefata de espanto!

X

Se teu amor fosse de fato e de verdade

Não seria o tempo ou mágoas e enganos

Que te faria parir de mim, mutável

Homem grávido de variação e vaidade!

POST SCRIPTUM

E te digo que teu único pecado

E leviandade, foi teres como esposa me tomado

em nome do Senhor,

Valendo como um falido voto

Este falido amor!

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 02/02/2008
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