Maresia
Sangue jorra de meus ombros fadigados,
Por meu corpo são deixados escritos.
Correm por meus dedos poesia frívola.
Sou também água,
Mas feita de fogaréu.
Destruída, o corpo arranhado
E um gemido antigo faz morada
Na base de minha coluna,
Sem hora para fugir de toda a dor
Que abriga em maré.
Sou Anjo e Demônio,
Compartilhados em mesmo abutre ínfimo.
Sou trilha e morada,
Empertigada em dias de Lua cheia.
Sou maresia, destituída e complacente.
Nada em mim resta,
Somente o desalento daquilo
Que já foi.
Em meu ventre, há somente vermelho vivo vazio.
Não há mais vida
Que me segure ao chão.
Derrubo o vinho,
Quebro os retratos
E no meu peito ainda cabe
O fim de uma recordação.