O Gosto Amargo da Indiferença
Era uma dor que eu não sabia nomear, até vê-lo ali, tão entregue, tão leve, tão... fácil.
Ele fazia com outra o que eu tanto implorei, o que tantas vezes virou discussão, lágrimas e silêncios pesados entre nós.
Não porque eu queria dominar ou impor, mas porque era meu desejo ser vista, ser ouvida, ser amada do jeito que só ele poderia me amar.
E agora, de longe, como uma espectadora indesejada de um filme que nunca quis assistir, eu o vejo fazer com ela.
Sem esforço, sem hesitação. Como se fosse natural, como se aquilo nunca tivesse sido motivo de resistência ou desculpa.
A cena me corta como uma lâmina afiada, e a cicatriz que fica é da certeza: ele podia, mas não quis.
Fiquei ali, parada, enquanto o nó na garganta se transformava em raiva e, depois, em um vazio difícil de descrever.
Não era apenas a cena que me feria.
Era a constatação de que talvez eu nunca tivesse sido suficiente para despertar nele aquilo que agora fluía tão espontaneamente.
Mas, enquanto observava, uma parte de mim começou a se desprender.
Percebi que não era sobre mim, nunca foi.
O problema não era meu pedido, nem minha insistência.
Era ele.
Era a escolha dele de não me dar o que eu merecia, de não enxergar meu valor enquanto eu ainda estava ali, disposta a lutar por nós.
Doeu, sim.
Doeu como se minha alma estivesse sendo esculpida à força, mas, no meio daquela dor, surgiu algo novo: liberdade.
Porque, naquele instante, entendi que o amor verdadeiro não precisa ser mendigado.
Ele vem, flui e constrói, sem que você precise implorar por gestos ou atenção.
Então, virei as costas.
Não para ele, mas para a dor que ele representava.
Porque, no fundo, mais do que vê-lo com outra, o que mais doía era ver que eu já sabia o que ele era, mas ainda assim me permiti acreditar que poderia ser diferente.
Agora, não mais.
Agora, sou eu que escolho.