Ex-Divino

Nem sombra sou, apenas penumbra.

Um nome qualquer, uma cobiça fugaz,

Apenas promessas dissipadas,

Suprimidas pelo tempo lacônico,

Asfixiadas antes de verter lágrimas.

Tornei-me santuário de delitos

Convenientes a seus prosélitos.

Atento, meus ouvidos, confessionário

Testemunhou, se associou, anuiu

Às juras sem ossaduras e já arcadas;

mas tão prováveis para o devoto

Exaurido pelo pragmatismo ordinário.

Cada lágrima para mim entregue

enclausurei-as num repositório afável.

Fui marina a porto, salvaguardando a jornada

Dos que cortam mares instáveis.

Nas tormentas, fui o anúncio de quietude.

Sem pretensões de guiar ou conduzir,

Vassalo feudal, de um senhora, por afago.

Entretanto nesta peça, de enredo cômico-dramático

No palco, privado, encenei um monólogo em dueto

Numa atuação improvisada, coadjuvante e marginal.

Personificando a quimera mitológica duma petiz confusa.

Fui descartável como são os estúpidos.

Encantado e sincronicamente vilipendiado.

Quando o espetáculo, por fim, se findou.

Sem aplausos ou sem vaias, eu ocultei-me,

Ao passo que meu corpo e m'nhalma

escoavam como aluimento de rejeitos.

Nesse hiato, percebi o autêntico,

Embora adstringente, cruel, indiferente.

No palanque da comédia "Amar"

Há, como se vê, lonjura do verbo outorgado:

Palavreado ilhado, perdido, solitário.

Adjetivando-se. Que desprezível!

De forma imprópria, inadequando

A devoção que crescia exponencialmente.

Renato W Lima
Enviado por Renato W Lima em 03/12/2024
Reeditado em 04/12/2024
Código do texto: T8211419
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