Ex-Divino
Nem sombra sou, apenas penumbra.
Um nome qualquer, uma cobiça fugaz,
Apenas promessas dissipadas,
Suprimidas pelo tempo lacônico,
Asfixiadas antes de verter lágrimas.
Tornei-me santuário de delitos
Convenientes a seus prosélitos.
Atento, meus ouvidos, confessionário
Testemunhou, se associou, anuiu
Às juras sem ossaduras e já arcadas;
mas tão prováveis para o devoto
Exaurido pelo pragmatismo ordinário.
Cada lágrima para mim entregue
enclausurei-as num repositório afável.
Fui marina a porto, salvaguardando a jornada
Dos que cortam mares instáveis.
Nas tormentas, fui o anúncio de quietude.
Sem pretensões de guiar ou conduzir,
Vassalo feudal, de um senhora, por afago.
Entretanto nesta peça, de enredo cômico-dramático
No palco, privado, encenei um monólogo em dueto
Numa atuação improvisada, coadjuvante e marginal.
Personificando a quimera mitológica duma petiz confusa.
Fui descartável como são os estúpidos.
Encantado e sincronicamente vilipendiado.
Quando o espetáculo, por fim, se findou.
Sem aplausos ou sem vaias, eu ocultei-me,
Ao passo que meu corpo e m'nhalma
escoavam como aluimento de rejeitos.
Nesse hiato, percebi o autêntico,
Embora adstringente, cruel, indiferente.
No palanque da comédia "Amar"
Há, como se vê, lonjura do verbo outorgado:
Palavreado ilhado, perdido, solitário.
Adjetivando-se. Que desprezível!
De forma imprópria, inadequando
A devoção que crescia exponencialmente.