Viver não pode ser resistir

VIVER NÃO PODE SER RESISTIR

Revejo meu corpo de longe

e sinto certa estranheza

ao não me identificar com o que vejo.

Meu corpo não sou eu,

minha carne não me pertence

e por tal razão,

não piso firmemente neste chão.

Se eu não sou o meu corpo,

dentro desta embalagem reafirmo

o lado escurecido,

a frieza sem sentido

e o coração que não descansa.

Não sou o espelho que me reflete,

não sou o que um dia imaginei,

pois mantive a distância

e me queimei por escolha,

acinzentando as múltiplas cores,

condicionando o vaso sem flores.

Por lhe dizer minha verdade

e fugir da vaidade,

me afastei de todos os estímulos sedutores,

enegrecendo por dentro

até me tornar puro cimento.

Condicionado pelo tempo,

esmagado pelo vento,

petrificado pelo próprio veneno.

Até que o inesperado acontece,

e algo pousa sobre mim,

lentamente vejo meus pedaços caírem,

minha pele de marfim,

esculpida pelos destroços

caóticos progressivos.

“Estou à beira de sumir”,

penso eu ao ver o Sol ressurgir

e reafirmo a mim mesmo:

VIVER NÃO PODE SER SEMPRE RESISTIR.

Deixo que tudo aconteça,

aceito a sentença e não luto

pelo último pedaço da sobremesa.

Por quê abandonei tudo,

desistindo de tudo,

abdicando de tudo,

inclusive de mim mesmo

e do que não me foi oferecido.

Pois caminho para o Nada,

e lá nada importa

além de sua chegada.

iaGovinda
Enviado por iaGovinda em 24/11/2024
Código do texto: T8204728
Classificação de conteúdo: seguro