Ah! Vida!

Ah! Vida!

O dia me empresta sempre um sorriso

Que distribuo sem graça pela vida

Ah! Vida!

Por que me quer quando não quero¿

O bom dia é ecoado com a voz rouca

Desejo o que sempre querem ouvir

Ah! Vida!

Por que quer a palavra mais leve¿

O sol, a chuva , o vento, calor e frio

Tudo veste o corpo nu e vazio

Ah! Vida!

Por que me despe diante de tudo¿

As horas passam, tudo passa enfim

Eu não passo, continuo sempre

Ah! Vida!

Por que você não me deixa seguir¿

Um aperto de mão me é estirado

Mas eu não consigo ser recíproco

Ah! Vida!

Por que não sei ser da companhia¿

A tarde morre e começa meu velório

Sou um corpo que vai jazendo amiúde

Ah! Vida!

Por que você não me deixa sepultar¿

O sereno começa a molhar a noite

e se faz em lágrima em meu rosto

ah! Vida!

Por que você não chora por mim¿

A noite, a solidão, a lembrança, o vazio

E o eco do corvo de Poe: “nunca mais”

Ah! Vida!

Por que deixa os urubus me velarem¿

Fecho os olhos na tentativa de sonhar

Mas as doses de café me despertam

Ah! Vida!

Até quando vai beber a minha dor¿

Ah! Vida! Ah! Vida! Ah! Vida! Ah! Vida!

Dormi... sem perceber, peguei no sono!

Mário Paternostro