Nas Asas de um Sonho
Na noite errante, a tecer um vasto enredo,
em versos soltos, repletos de ouro e paz,
vi a fantasia, encantada, em segredo,
erguer-se à minha frente, em brumas e lilás.
Sereias cantavam no mar do pensamento,
num coro doce, de ecos e de maresia,
e, ao longe, surgia, alado e em movimento,
um Pégaso branco, tão livre e tão magia.
A galope ao céu, fui levado em sua asa,
onde o mundo era sonho e o medo, abrandado.
No riso das estrelas, minha alma se arrasa,
pois era o que o real me havia negado.
Mas eis que o Pégaso, em suspiro cansado,
me disse: “Vive o mundo, pois teu é o chão;
não há sonho eterno, nem canto guardado.
Volta à tua luta, na dura estação.”
Acordei de um mundo de encanto desfeito,
onde as linhas que escrevo jamais são reais.
Mas a vida cobra o seu preço em meu peito,
e a realidade exige que eu acorde... e mais.
Assim, vou-me ao labor, no cinza e concreto,
pois, ainda que a vida me prenda a raiz,
no sonho perdido, de alento discreto,
ficou o alívio de um instante feliz.