PERSONAGEM
Bate na porta da minha alma, o desespero.
Com esmero, invade todos os cômodos,
Atribula a minha já minúscula calma.
Já não cabe em mim tamanha agonia
Das intermináveis noites e o teatro do dia.
Sim! Eu me tornei personagem de mim.
Um sorriso mecânico para ser simpático
A voz medida me rasgando por dentro
E os fantasmas esperando o inevitável fim.
Quando, nessa vida miserável, é você
O seu mais terrível e cruel adversário
Não há mais derrotas para perder.
Escuta-se como ladainha enfadonha
Promessas de uma improvável eternidade
Que faz a razão corar de tanta vergonha.
Não há escuridão para se esconder
Quando o torpor, a dor e a solidão
Está dentro e você é o próprio inferno.