Um Narcisista e Uma Porta Fechada
Você sente minha falta
Isso é óbvio como uma ferida aberta e sangrando
Eu não sinto a sua
Isso é óbvio como um sangramento interno
Descoberto depois de dias na mesa de exames
Você me procurou para dizer que não ia mais me procurar
Porque não queria interferir na minha jornada
Como se ainda tivesse o direito ou a capacidade
De interferir em qualquer coisa
Como se não estivesse claro como no dia em que parti
Que o que você chama de altruísmo
É só outra demonstração bem pouco criativa de covardia
Você sente minha falta
Por todos os motivos errados
Por todas as minhas demonstrações de afeto não recíprocas
Que me deixaram exausta
É claro que eu entendo a sua nostalgia
Não fui eu quem machucou você com doses cavalares de narcisismo
É claro que eu entendo a sua saudade
Só não compartilho dela
Porque estou ocupada juntando os cacos que você deixou
É claro que sentiria falta
Da terapeuta despreparada e não remunerada que fui pra você
Não é o único que percebeu o quanto eu era boa nisso
Nem o único que deixou de perceber o preço que pago
E, na verdade, é tão a sua cara sentir a minha falta
Pensando no quanto eu era útil, e não especial
Antes que o seu narcisismo pense besteiras
Não estou escrevendo isso pra você
Escrevo para mim
Para lembrar de tudo o que senti
De tudo que não quero sentir de novo
Para dizer uma vez mais que a porta está fechada por uma ótima razão
E ainda que todos os meus novos planos felizes acabem dando errado
Eu nunca mais vou abrir