MINHA VIAGEM
Existem na geografia do meu coração
Rios de dores que nascem do meu peito.
E que correm, em voluptuosa fúria,
Para desaguarem no oceano imenso
Das angústias do meu ser.
E quem me vê assim, em aparente calma,
Como calmo lago, sob os raios de sol, ao entardecer
Não pode imaginar
que tormentas terríveis me acometem...
que mil furacões de fúria conduzem,
o frágil navegar do meu viver...
Já vai longa a viagem.
E existem dias nos quais anseio um porto amigo
Em que possa aportar o meu velame...
E sobre a areia descansar meu barco...
Mas a calmaria nunca chega
E a cada dia minha pobre nau,
Mais e mais se encaminha para as profundezas.
E deixo ao largo os ventos de alegria
E me entrego a navegar tristezas...
Até que um dia o fim da viagem chegue
E por fatal razão eu perca a condição de navegar
E perca o rumo, e perca os instrumentos,
E perca a capacidade de manusear as cordas.
E então, num lance de última arrancada,
Vou lançar meu barco de encontro às tempestades,
E me confundir com as vagas...
E ao ver o tombadilho se afundando,
As velas se rompendo,
O mastro, também, haverá de se quebrar
quando todo o meu barco naufragar...
Me entregarei, então, calmamente à imensidão do oceano.
Findos os sonhos...Terminada a viagem...
Mortas todas as ilusões pelas quais estive navegando!!!