Quem dera pudesse eu...

Quem dera pudesse eu... zarpar desse mundo para nunca mais voltar. Quem dera pudesse saltar da beirada de uma terra plana (infelizmente não acredito existir) e afundar no abismo da escuridão que me seduz e me atrai como um barco é atraído pela força magnética de um redemoinho em alto mar. Quem dera pudesse eu sumir no espaço sideral para toda a eternidade e nunca mais erguer os olhos para ver tanta dor e sofrimento, tanta lágrima e solidão sem cura, sem um bálsamo que possa amainar, sem possibilidade alguma de um dia vir a ser mitigada ou, pelo menos suavizada - nem com toda força do amor e da paixão dedicadas incansável e incondicionalmente há bilhões e bilhões de anos... Quem dera pudesse eu fugir para um planeta tão, tão distante, e nunca, nunca, nunca, nunca mais colocar os pés ao redor deste espaço onde habita essa dor fenomenal que me atinge e me rasga por dentro quebrando meu coração em mil cacos e pedaços de fragmentos de carne adjeta e inútil, um músculo que - não sei porque - continua a bater... E que me pergunto, me pergunto, me pergunto, por que? por que? por que não se apaga, não se joga ao inferno já que suas batidas para nada mais servem a não ser para deixar viver um ser que não tem sentido ou valor algum, cuja imensidão que lhe habita não tem significado algum para ninguém e, agora, nem para si mesma. Quem dera pudesse eu deitar na alcova e, finalmente, finalmente, finalmente repousar de tanta dor e sofrimento. E... enquanto escrevo, um lágrima quente beira o canto dos olhos, deslizando pela face e adentrando o corpo pelos lábios secos e mortos, num eterno movimento de tristeza e dor que nunca, jamais, jamais, jamais se cala e sobre o qual nada mais diz que um dia poderá, em algum momento, nem que seja apenas um só, um pequeno instante, um segundo só que seja, ou um milésimo dele... se calar...  Quem dera pudesse eu... agora, para sempre, além do corpo e do coração, a alma poeta.... pra sempre... também... calar...