TALVEZ EU SEJA MESMO
Talvez eu não mereça nada,
Nem estar aqui,
Levar muita porrada
E com isso me divertir.
Talvez eu seja mesmo
O resto do todo o resto,
A miséria em forma viva,
Um delírio em protesto.
Sou o fim mais trágico,
A coisa imperfeita,
Um pobre sorumbático,
De matéria nenhuma feita.
Talvez a vida mesmo
Tenha se incumbido de minha morte,
Aniquilado, desprovido de sorte,
Ando pelo mundo a esmo.
Caio em valas profundas,
De onde ninguém me salva,
Fico lá estendido,
Numa grande amargura.
Se eu sofro?
Nem sei mais o que é isso,
Eu apenas vivo tormentos,
Nunca verei o Paraíso.
Saio em busca de nada,
Pois é o que me resta,
Minha alma enlameada,
Pega tudo o que não presta.
E onde estou agora?
Em mais uma vala imunda,
Eu até tento ir embora,
Mas alguma coisa me segura.