O ciclo da dor e da fuga
Dentro da morada, os pés afogados em águas turvas,
O sol subitamente se pôs antes da hora marcada,
Minha antiga cabana, agora devorada pelos fogos de artifício,
Duas árvores tombaram em direções opostas.
Poderia eu reviver tal experiência?
Poderia eu sentir de novo?
Imagine-se na fervilhante metrópole,
Celebrando noite após noite no bairro.
Encontrei meu primeiro amor com um amigo,
A antiga paixão desvaneceu e eu gritei,
Meu desprezo ao tolo camarada foi manifestado.
Ele jurou perseguição e vingança,
Sua mãe tentou me proteger e permitiu minha fuga.
Poderia eu reviver tal experiência?
Poderia eu sentir de novo?
Palavras amargas fluíram de meus lábios,
Pois não há bálsamo para minha aflição.
Um gosto acre corria por minhas veias,
Estou cansado de confortos vãos,
Pois quem não sente dor, desconhece a verdade.
Poderia eu reviver tal experiência?
Poderia eu sentir de novo?
Minha ira é um oceano agitado,
Vi um casal segurando sacos de goiabas.
Alguém passou num concurso para ensinar,
Outro graduou-se na academia com honras.
Peguei uma pedra, esculpi meu insulto,
E arremessei contra o casal que cruzava meu caminho.
Houve sangue, houve lágrimas e fui lançado à prisão,
Estou em uma cela especial, talvez meu diploma tenha algum valor.
Poderia eu reviver tal experiência?
Poderia eu sentir de novo?
O juiz proferiu minha sentença,
Confirmou minha insanidade.
Fui arremessado ao primeiro manicômio
Tomando uma miríade de pílulas e injeções,
Pupilas dilatadas, olhos opacos,
Terapia em grupo com alegrias forçadas,
Um sorriso plástico para simular que estou bem,
Até que eu deixe este lugar.
Poderia eu reviver tal experiência?
Poderia eu sentir de novo?
Fora deste lugar, devo mergulhar na falácia,
Ser aceito pela sociedade, obrigado a escutar,
É um pequeno consolo saber que verei o amanhã.
O que poucos sabem é que
Só preciso de uma rosa murcha,
Jogada sobre as cinzas do meu ser.
Acho que não posso mais suportar isso.
Acho que não posso mais suportar isso.