Na noite do dia 12 para o dia 13 de maio

Na noite do dia 12 para o dia 13 de maio do

Ano de Nosso Senhor Jesus Christo de

Hum mil e oitocentos e oitenta e oito

O feitor veio nos dizer na senzala

Essa noite todos vão dormir sem roupas e

Sem comer nada por ordem do Senhor

Fazia muito calor no engenho

E nem nos deram nem um gole d’água

As mulheres não sabiam se protegiam

Os seios ou os ventres com suas mãos

Os homens nem olhavam para as mulheres

Para não as envergonhar ainda mais

E cobriam seus pendurados também

Com as vergonhas nos rostos fogueados

Ninguém sabia o Diabo soprou nos ouvidos

Do Senhor para tomar essa atitude

Se dizia até o governo iria pôr os negros livres

E já assim, Meu Deus, que liberdade seria essa

Já estávamos sem comida, sem água e sem roupa

Nem o pouco que tínhamos já não havia mais

Para nós todos e as mulheres choravam

Temendo sermos todos mortos sem piedade.

Amanheceu o dia e o feitor veio nos dar água

Comida, mandar nos vestir e ir para o eito.

Não havíamos antes recebidos todos juntos

Tamanho castigo por nada e sem saber a razão.

À tardinha do dia 13, o feitor nos interrompeu

No trabalho, nos mandou nos despir a todos

E nos expulsou da fazenda

Sem pão, sem água, sem roupa, sem nada

Mandou fôssemos para longe dali

E não pensássemos em voltar para o

Engenho se não quiséssemos morrer.

Não nos explicou nada

Compreendemos então

Estávamos livres sem onde dormir

Sem o que comer e nus como nascemos

Rumamos todos para a corte na

Cidade de São Sebastião da

Comarca do Rio de Janeiro

E na estrada encontramos outros

Pretos, uns vestidos, outros nus

Como nós estávamos

Soubemos a princesa havia

Assinado nossa libertação

Caminhamos coisa de quatro horas

Comendo frutas, bebendo águas das fontes

E para espantar a fome, o chão quente nos pés

A vergonha da nudez e a incerteza de tudo

Começamos todos a cantar e dançar

Chegando à corte já encontramos

A cidade cheia de pretitude

Festejando a abolição do cativeiro

Sabíamos o 14 de maio estaríamos

Por nós mesmos, à própria sorte.

Rodison Roberto Santos

São Paulo, 15 de fevereiro de 2024

Rodison Roberto Santos
Enviado por Rodison Roberto Santos em 16/08/2024
Código do texto: T8129947
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