Concreta Desilusão
Gostaria deixar você ir embora.
Partir como o nosso vento melancólico
em tardes nubladas que nosso amor mora.
Queria, eu queria! Desculpa te desapontar,
fui forjado em desilusão;
minha paixão é de um típico bucólico
areando o farfalhar de sua mão,
só que sobre o rosto à distância
de intenção nobre, de bonança...
Seria interessante se passássemos
de um tempo arcaico de corpos
para almas unidas num só ente.
Além do digital, além do normal...
O que sofremos é ser órgão de gente.
Necessidades fisiológicas,
de espaço; a limitação carnal.
Sempre teremos a internet,
a moral, o dogma e coisas ilógicas
aos apelos do espírito.
É claro que isso contrasta a paixão
e a conexão genuína.
Desculpa, mas o que nos aproxima
é justamente o nosso algoz:
distância! Virtualmente o que liga
corações gêmeos, mas em circunstância
atroz; a avidez que sinto é o calor de seu
seio alvo. A morte do desejo
morreu na tecnologia de apertar o
corpo mágico, o corpo longínquo.
A pele tenho por imagens, e o ensejo
da língua fantasma.
Oh, amor! Que desastre é o vínculo
que corta o destino duma lástima!
A chuva é o amor chorar sem paisagem...
Perambularei como cadáver de Sol:
sonâmbulo mausoléu dorme meu ais.
Sou máscara sem raiz de vida. Eu que jaz
travestido em raios de dor — morto girassol.