Concreta Desilusão

Gostaria deixar você ir embora.

Partir como o nosso vento melancólico

em tardes nubladas que nosso amor mora.

Queria, eu queria! Desculpa te desapontar,

fui forjado em desilusão;

minha paixão é de um típico bucólico

areando o farfalhar de sua mão,

só que sobre o rosto à distância

de intenção nobre, de bonança...

Seria interessante se passássemos  

de um tempo arcaico de corpos

para almas unidas num só ente.

Além do digital, além do normal...

O que sofremos é ser órgão de gente.

Necessidades fisiológicas,

de espaço; a limitação carnal.

Sempre teremos a internet,

a moral, o dogma e coisas ilógicas

aos apelos do espírito.

É claro que isso contrasta a paixão

e a conexão genuína.

Desculpa, mas o que nos aproxima

é justamente o nosso algoz: 

distância! Virtualmente o que liga

corações gêmeos, mas em circunstância 

atroz; a avidez que sinto é o calor de seu

seio alvo. A morte do desejo

morreu na tecnologia de apertar o

corpo mágico, o corpo longínquo.

A pele tenho por imagens, e o ensejo 

da língua fantasma.

Oh, amor! Que desastre é o vínculo 

que corta o destino duma lástima!

A chuva é o amor chorar sem paisagem... 

Perambularei como cadáver de Sol:

sonâmbulo mausoléu dorme meu ais.

Sou máscara sem raiz de vida. Eu que jaz

travestido em raios de dor — morto girassol.

 

  

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 01/07/2024
Código do texto: T8097721
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