Soldado herói
Já é tarde, não há ninguém à porta,
Ele nunca mais voltará aos teus braços,
Só as tristes memórias do ontem,
Te assombram em carrosséis,
Quando o mandantes embora,
Sem despedidas, sem abraços,
Lhe dissestes que não estavas pronta,
Que ele não te despertava paixão,
Que não o via com sentimento de amor,
Que não havia conexão que valesse,
Que não havia essência que importasse,
Dissestes que esperaria tua alma gêmea,
Alguém que despertasse teu interior,
Alguém que adoçasse a estética do olhar,
Alguém que fosse socialmente aceito,
Deixastes que ele partisse em lágrimas,
Destroçado pela dor da rejeição,
Dilacerado pelas palavras frias,
Desiludido pela mágoa da indiferença,
Sem rumo, sem esperanças, sem sonhos,
Alistou-se no primeiro posto militar,
Viajou no dia seguinte no comboio do mar,
Foi para uma guerra em outras terras,
Em um país de chuva, neve e bombardeios,
Entre explosões e balas de metralhadoras,
Sua vida deixara de ter importância,
Sabia que estava por um fio ali,
Quando foi alvejado no coração,
A dor cessou e ele sorriu antes de ir,
Agora todo dia 12 de junho trazes flores,
Flores na lápide do soldado herói,
O único que a amou de verdade,
Anos se passaram e nunca te olharam
Nunca te desejaram, nunca te trataram
Nunca te disseram coisas belas em poesias,
Nunca te propuseram casamento e um lar,
Como o soldado cujos ossos jazem ali,
À sete palmos do chão frio no escuro,
Cujo valor só foi lembrado na morte,
Pobre do soldado herói, medalha póstuma,
Silêncio e nome gravado no mural cinza,
As iniciais no granito do edifício militar,
Enquanto tu já de cabelos grisalhos chora,
Lembra e sofre pelas decisões do passado,
O vazio que jamais será preenchido,
A história que não será reescrita,
Lágrimas sobre a lápide do soldado herói...