Gavetas de Poesia
No ar repetido do dia, vi em nuvens, o tempo, o riso, o beijo.
E agora é tudo igual, só ausência, o riso, o beijo.
O lugarejo é tão triste, os pássaros se amotinaram, sobrou resquícios e pedras.
Na calçada de brinquedo, inda tem os nossos nomes, um resto de toco, um oco em mim.
E a praça bem alegre, nos domingos igrejeiros, o amor que conheci, fumaça como um turíbulo.
Tudo esvai, passa em corrente, de ventos, águas, ribeiro, se escancara como em pedras, sentimento, ribanceiro.
E em papéis que sobraram, bem amarelo teu rosto, já perdi o doce gosto, daqueles lábios, tão meus.
Dor tão funda, a alma grita, engana um relógio enquanto envelheço.
Beijos, tolos, pedras, domingos, tudo passa, praça e passarinho.
Fica no peito guardado, gavetas de poesia.
No ar repetido do dia...
Gavetas de Poesia
João Francisco da Cruz