Morrendo de tédio I: A Cicuta

Mate-me as dez em ponto.

Dê-me duas doses de cicuta.

Penso que devo morrer

Logo que entornar a primeira dose.

A segunda é para minha garantia

Ou para alguém que queira me acompanhar.

Por favor, logo que debruçar meus olhos

E minha alma sob o tempo eterno,

Deite-me na rua,

Em meio ao trânsito

Para que saibam quando passarem

Pelo meu corpo frio e estendido

Que jaz um homem infeliz pelo seu tempo

Se ninguém parar diante disso

Empurre-me para de baixo de um caminhão

Meu corpo dilacerado, com certeza, chamará mais atenção.

Afinal a desgraça e os destroços

Sempre param os homens.

Quando for mutilado este corpo que ainda fala quente,

Estarei olhando da calçada

As figuras e as vozes de homens, mulheres e criancinha:

“– Tinha de ser assim para morrer?”

E eu rirei de seus olhos piedosos:

“– Eu já estava morto”.

Liviuca
Enviado por Liviuca em 07/01/2008
Código do texto: T807087
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