A dependência é o meu pior delírio

É como se o feitiço da nostalgia me corroesse.

Tenho uma tarântula no carpete do meu passo melancólico,

Cacos de sangue tateados pelas mãos das memórias,

Lembro do veneno que senti ao tentar amar;

Não sou emblemático como as teias da mentira:

Gostei quando sentiram o vácuo da minha ausência,

Foi satisfatório ver o mínimo de luz em empatias avulsas.

(Ou será que um dia fui importante para alguém?)

Sinto como se vivesse no passado, talvez eu seja um defunto ambulante,

Nas marcas do meu eu mais frágil, há decomposição dos laços afetivos;

Vejo velórios nos olhos purgatórios de todos os seres,

Quando saio para contemplar o mundo, encontro cemitérios.

Estou vivo nessa carnificina de almas do mar!

Afoguei sozinho em sofrimento corrosivo,

A solidão me amou mais que todos os deuses…

Com o tempo, nadamos contra a correnteza…

Tento não pensar em seu lindo rosto ao me confessar à redenção,

Toda vez quando a sombra de sua forma vem, sinto angústia.

Sinto repulsa de mim quando ainda perco tempo com você,

Essas náuseas etéreas e incontroláveis da imaginação;

O problema, digamos… não é você, também é,

Mas não em totalidade: é Você! Você ontológico, com V maiúsculo:

São amigos, amores, famílias, sentimentos, coisas, decepções.

Sofri por me apegar a todas as coisas impermanentes!

Odeio a prepotência do budismo, porque não é real, somos carne

Ideias, conceitos, apegos… O budismo mentiu como todos mentiram!

Dizem por entre as bocas a esmo que somos um coletivo,

E é por essa hipótese de sermos conjuntos, o meu desprezo.

O nascituro é vergonhoso: necessitamos de cuidado;

Aprender se dá com a orientação do mestre, ou seremos imbecis;

Inovamos os objetos e as teorias com o fantasma

Da inspiração de gente morta;

Para prolongar a miséria da raça humana, é preciso procriar.

Tudo quanto os vermes, a terra e o ar abocam no fim, é por dependência!

O pensamento mundano me enoja: “tudo passa, as relações são líquidas”.

Eu não me adequo a isso! Não sou do tipo que conhece gente,

Sou um materialista em excelência inútil, me apego a objetos

Porque objetos são inanimados e só resta no final, coisas, não pessoas…

Não sou a pessoa das fáceis amizades, nem da boa convivência.

Não quero conhecer novas tarântulas, morrer por outras pessoas,

Despencar novamente na antiga e conhecida dependência emocional!

Tornei aquilo que repudio… um dependente emocional.

Sou a poesia, e não o poeta que ama a vida mais do que deveria amá-la,

Enxergo os poros das nuances dos detalhes com uma lente aquém:

Para mim, uma amizade não é só uma amizade, um amor, não é só um amor;

Uma queda de joelhos sensíveis não é só uma queda de joelhos sensíveis;

Um sentimento diz mais sobre os batimentos cardíacos.

Como um cubo de paradoxos entre paradoxos, só posso viver, ou pior…

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 21/05/2024
Código do texto: T8067944
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