DELÍRIO
Foi no auge da febre que arde em meu coração
Que gritei o teu nome.
Foi no delírio do desejo que me arrasta,
Qual frágil folha no leito do rio,
Entorpecida pela corrente, pela torrente,
Rumo às infinitas quedas de uma paixão,
Que quis abraçar o teu corpo.
Meus lábios gemiam pelos teus,
Minh'alma vagava a procura da tua,
E saí correndo pelas ruas,
Qual louco, por entre a multidão.
E todos ouviram o teu nome
E, num átimo, zombaram de mim:
>Pobre poeta, que queres da vida?
Nada respondia, procurava-te então.
Abria portas, percorria avenidas,
E todos me diziam ser esforço em vão:
>Desiste sonhador, pois a musa que é tua
É a musa que é nossa, a musa da vida.
Uma mulher como as outras, dízima na multidão.
E todos riam, e todos me empurravam,
Até que no cansaço, derramei-me pelo chão.
E uma risada fez-se a meus ouvidos conhecida,
E era de você, musa minha, estendendo-me a mão:
>Levanta-te poeta, e risca-me da tua vida,
E risca todos nós que somos simples mortais.
Fica com tua solidão, tua eterna companheira,
E honra tua existência, sem querer mais.
Nada mais que reserva tua pobre sina,
E encanta-nos com o que escreves,
Com o que falas,
Crias.
E segues assim, taciturno, o teu caminho,
E não olhes para trás, para nós mortais.
Pois que a nossos olhos tu és louco
E nada sabes da vida.
E todos se foram.
Passo a passo, pouco a pouco,
E um silêncio fez-se essência total.
Segurei na tua mão e em esquecer-te pensei,
Olhei fundo em teus olhos e...
DESPERTEI!