Desencanto
Ao amigo Renê Sena
A vida é assim: um imenso devaneio.
Em vão se passa: nada aqui perdura.
A minha crença fugiu-me do seio
Nos descaminhos dessa estrada escura.
Meus lábios fingem um sorriso (pálido)
Mas os meus olhos já choraram tanto,
Que o rio das lágrimas ficou esquálido
E a indiferença inundou meu canto.
Tenho comigo uma visão do mundo
Às vezes foge-me, mas nunca esqueço.
Há pouco eu quis participar... No fundo
Me desencontro e até me desconheço.
No violão e na música me embriago,
Chego a sentir o perfume da esperança.
Mas o que faz-me rir, um riso largo,
É o jeito cândido de uma criança!