Quando a noite chega

Maria Antônia Canavezi Scarpa

Hoje estou indo dormir sozinha

quase insignificante, miúda

talvez envergonhada de tanto engolir soluços

flutuando em delícias mornas

totalmente perdida feito uma loba nas estepes

O meu destino tem pressa

a todo momento espia os meus pecados

todos os meus pensamentos desvairados

tirando minha máscara

querendo me ensinar a aprender como renunciar

Não gosto de me ver diminuta

e na minha angústia frívola

perceber que não tenho timidez

nem nunca serei taciturna

apenas... uma falsa erudita

um pouco burguesa

E geralmente são as noites

que oferecem os pecados caindo pelo ar

dentro da minha ironia inquieta

que acabo sempre

suspirando lembranças

Penso em chorar, mas mantenho a lucidez

já que meus sentimentos, minhas paixões

parecem atos teatrais

estou sempre disposta a encenar

mesmo que no palco não haja uma fresta

por onde eu possa escapar

Não me isolo...não sou uma ilha

há uma grande distância entre eu

e o espaço vazio

algo inatingível, por isso o afã

de complementar o meu eu

A perfeição não existe

e as idas e vindas sempre me desesperam

sei que sem um ideal para burilar as incertezas

posso aceitar o que sei

recuperando nos amanhãs o sono perdido

O amor é danoso,cheio de tímidas esperanças

me embriago até estando sóbria

soa sempre ruidosamente perfeito

mas tem sempre um sabor amargo

uma vez que todos os dias jamais serão iguais

E se hoje estou indo dormir sozinha

vou tentar brincar como minha face

dá-la ao vento num passeio solitário

beijar o tempo cálido

até que o sono

apague todos esses pensamentos

Tília Cheirosa
Enviado por Tília Cheirosa em 04/01/2008
Código do texto: T802954
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.