ETERNA AFLIÇÃO
Noite longa
Comprida
Quase cumprida
Durante uma vida.
Muita coisa a rolar
Era um filme que rolava
Eu sempre recordava
Momentos que perturbavam.
Rolando na cama
Para lá e para cá.
O sono não vinha
O sonho não tinha
A alegria era fria
À noite, uma eterna aflição,
Em meu coração
A faca apontava,
A solidão apertava,
E eu não dormia.
Compromisso marcado
A noite inteira, acordado.
Eu nada podia fazer
Se eu levantava o suor escorria
Se eu deitava não dormia
Minha cabeça doía
Esvaiu-me a alegria
Faltava-me a poesia
Para me consolar.
A boca não parava quieta
Abria e fechava
Fechava e abria
Enquanto eu não dormia
O filme rolava
Eu rolava
O sonho espantava
O sono não chegava
Eu quase chorava
Pelo compromisso marcado
Sem saber meu destino
Pois desde quando eu era menino
Sempre honrei com tudo que firmava,
Mas parecia que desta vez
Eu perdera a direção do trem
E ele se descarrilou
E por isso mesmo
Até altas horas de madrugada
Sem cochilar aqui estou.
Estou preocupado com meu futuro
Com seu futuro também
Você dorme tranquilo
Ateiam fogo no mundo
E no sono profundo
Literalmente se desliga
E sem dormir a noite inteira
Simplesmente me deixou.
Foi a noite mais longa da minha vida.
Os minutos eram pesadelos.
Eu rolava na cama
Mas aquela maldita chama
Jogava-me no paredão de fuzilamento
E as flechas chegavam de todos os lados.
Enquanto nada eu podia fazer,
Além de sofrer
Por estar naquela situação.
Eu não podia morrer
Eu não podia viver
Eu só podia sofrer
E ver a pele sendo arrancada
Por uma faca cega
Que não cortava,
Rasgava-me por dentro
Enquanto o sangue escorria por fora.
As gotículas de sangue invisível
Saiam de dentro de mim
Era como uma morte na fogueira
Da Santa Inquisição
Que me queimava por inteiro
Eu sofria o desespero
E ninguém podia me socorrer
Por isso não dormia,
Por isso não vivia,
Mas também não podia morrer!
As horas se aproximando
Minhas lágrimas estavam escorrendo
O “bem-feitor” bem dormindo
Naquele sono profundo
Enquanto eu era o desgosto profundo
Em carne e osso além da alma
Que vagava sem parar
Para além de nem sei onde
Tudo isso poderia parar.
Ele já queria me internar
Para dizer que eu estava doidão
Para justificar sua maluquice
De garoto sem coração
Que recebe de tudo
E não valoriza nada
Pisa em quem lhe ama,
Deixa-o rolando na cama
Enquanto dorme a noite inteira
Sem a menor preocupação.
Ouro Preto – MG, 2010.
Aires José Pereira é professor do curso de Geografia e do Programa de Mestrado em Gestão e Tecnologia Ambiental da UFR. É coautor do Hino Oficial de Rondonópolis, membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense, membro efetivo da Academia Rononopolitana de Letras e possui vários livros e artigos publicados.