Alienação
A alienação me espanta.
Nem tanto a política,
nem tanto a cultural,
mas a emocional.
Como podem, em meio a tantos sinais,
permanecerem cegos!
Com tanto grito por socorro,
permanecerem surdos!
Debaixo de tantas lágrimas,
permanecerem secos!
E, com tanto sofrimento,
permanecerem entorpecidos!
Me questiono sobre minha existência,
pois o mundo segue frio, calculista e veloz.
O que vim fazer nesse mundo?
Me sinto uma alma perdida na multidão
em busca da luz.
Qual a minha missão? Minha utilidade?
Que falta faria? Para quem? Por quanto tempo?
Mas, calma. Não se preocupe.
Não penso em ir embora.
Busco apenas um sentido para viver.
Algo que me preencha o vazio.
Se não fossem meus filhos, estaria oco!
Mas, à minha volta, todos estão alienados à minha situação.
Mesmo com todos os sinais que emito,
não há interesse pela minha luta secreta,
pela guerra que travo em mim.
Parece que vivo para evitar o choro,
para demonstrar força.
Para acender, nos outros, a luz que não tenho.
Meus poemas são um grito mudo
que ecoa num mundo alienado,
onde o que importa é o efêmero individual.
É o prazer que não posso desfrutar,
já que não sou alheio às dores dos vulneráveis e
busco me escorar naqueles que, como eu,
se disfarçam em um sorriso alienado.