CINEMÁTICO

Dizia a velha guarda

“entre mortos e feridos alguém há-de escapar”

irrita, angustia o desgoverno

lágrimas, crocodilo, televisão, direto

o direito a fungar, lenços de papel

câmaras, opiniadores

evasões, invasões, subversões

totais, fatais,indecentes e aparentes

já ninguém capaz de distinguir

políticos, comentadores e jornalistas

apresentadeiras,atrizes, atrasos, cançonetistas

em gravatas ou tshirt

mamas operadas descaídas

sorrisos alarves em peles esticadas

ninguém se entende

uns à bicada

outros à dentada

alguns a soprar um ventinho norte

no traseiro dos outros,

Ecos da guerra, convulsão e gritos

gente a mais seguramente alvitra

dizia a velha guarda

“sete cães a um osso!”

assim desde sempre

foi sempre igual

demografia, corridas, população em excesso

Malthus e Arsène Dumont

leis e teorias,previsões e advinhas

num deserto povoado

de poluição e sonhos irrecuperáveis

Atravesso, tonto, a multidão no corredor do shopping

criaturas tasquinham pasteis, bebem mistelas

alinhados , disciplinados em manjedouras

uma tropa,treinada , disciplinada

aceita , aliena-se e consome

Compro o bilhete

enjoo o cheiro

pipocas, baldes, plástico, negócio

no escuro instalado - agora eu

viajo, sem sair do lugar

música e efeitos especiais

e uma história perversa

anestesia

José Manuel Serradas
Enviado por José Manuel Serradas em 07/03/2024
Código do texto: T8014556
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