CINEMÁTICO
Dizia a velha guarda
“entre mortos e feridos alguém há-de escapar”
irrita, angustia o desgoverno
lágrimas, crocodilo, televisão, direto
o direito a fungar, lenços de papel
câmaras, opiniadores
evasões, invasões, subversões
totais, fatais,indecentes e aparentes
já ninguém capaz de distinguir
políticos, comentadores e jornalistas
apresentadeiras,atrizes, atrasos, cançonetistas
em gravatas ou tshirt
mamas operadas descaídas
sorrisos alarves em peles esticadas
ninguém se entende
uns à bicada
outros à dentada
alguns a soprar um ventinho norte
no traseiro dos outros,
Ecos da guerra, convulsão e gritos
gente a mais seguramente alvitra
dizia a velha guarda
“sete cães a um osso!”
assim desde sempre
foi sempre igual
demografia, corridas, população em excesso
Malthus e Arsène Dumont
leis e teorias,previsões e advinhas
num deserto povoado
de poluição e sonhos irrecuperáveis
Atravesso, tonto, a multidão no corredor do shopping
criaturas tasquinham pasteis, bebem mistelas
alinhados , disciplinados em manjedouras
uma tropa,treinada , disciplinada
aceita , aliena-se e consome
Compro o bilhete
enjoo o cheiro
pipocas, baldes, plástico, negócio
no escuro instalado - agora eu
viajo, sem sair do lugar
música e efeitos especiais
e uma história perversa
anestesia