O trem
Tenho feito metáforas com a carne,
com os olhos, com a boca, com o efêmero,
e sempre quando tenho comigo o medíocre,
sorrio com as barbatanas de ferro.
Emprego o abstrato chorado no pranto das confusões,
mergulhado sobre a cama às 22:22 de sábado
buscando na misericórdia da inspiração,
da ação, no xeque-mate, no amor,
nas realidades palpáveis a precisão.
Tenho a mocidade dos moços e moças
que vão em comboio aos desejos;
sem rumo parto a meu destino fúnebre,
nesse embarque o desespero atropela
minha boca, minha carne, meus pensamentos…
O gelo de caminhar sobre a estrada de uma vida a outra,
não metafórica, mas viajante para o além-nunca.