Bala de prata
seria a resposta
ou apenas um grito?
a vida é encruzilhada
seduz pelo conflito
odor da emboscada
gargalha quem pode
sei que não posso
por isso calo
choro a prestações
ouros aos milhares
pelas minas e bancos
tantos podres haveres
bilhões de céus, estrelas
partilhando imensidões
isentas do aluguel mensal
ah, nosso exílio moral
modo venal de existir
acena à autoextinção
do cosanguíneo mundial
responda: qual é o total?
irmãos até a página dois?
a tempestade é a mesma
e parcos são os barcos
sobreviva quem puder
sei que não posso
por isso, sonho
me dobro às ilusões
o último recurso frio:
lançar-me ao abismo
deste destino vazio
na mão trêmula, suor
a bala de prata reluz
do arcabuz, o gatilho cede
mede trajetória ao alvo
pede perdão pela falha
e a noite engole o som
seguinte vem o dia
do amanhecer morrente
o vento silente repousa
ousa omitir-se do mal
da injúria verbal do fim
outrossim, o desaplaude
meu tão augusto corpo
a terra sufoca, mastiga,
mas a alma suspendida
vai-se na lida dos anjos