OH! MEUS OITO ANOS.
Oh! que repulsa que tenho
Da droga da minha vida,
Durante a infância oprimida
Que não quero viver nunca mais!
Que horror, que pobreza, que dores,
Daquelas minhas canseiras,
Trabalhando nas carvoeiras
Para ajudar os meus pais!
Como são tristes os dias
De quem vive na penitência!
- sem ter qualquer assistência,
Sem ter carinho ou amor;
Às crianças naquele terreno:
Sonhar - não era aceitável,
Brincar - era caso encerrado,
A vida - era circo de horror!
Que pó, que tosse, que zica,
Que noites só de larica,
Naquelas sujas pocilgas,
Sem colchas pra me enrolar!
O pé cheio de bicheiras,
A casa de goteiras cheia,
Com piso de terra e areia,
Que me dava asco pisar!
Oh! dias de ignorância!
Oh! infernos e quimeras!
Que infeliz eu não era
Forçado a trabalhar?
Em vez dos cuidados de agora,
Sofria com as malícias,
Com violência e as blandícias,
Dos adultos naquele lugar!
Filho preso na miséria,
Eu não comia direito,
Camisa rasgada ao peito,
- pés descalços, braços nus -
Errava pelas esquinas
A roda dos indigentes,
Ignorado das gentes
Que tinham o sangue azul.
Naquele tempo horroroso
Em que a criança penava,
- Pontapés, murros e tapas -
Mijava de tanto apanhar!
A lapada que eu pegava
Eram tão forte que ardia,
Mas caladinho eu gemia
E sem poder reclamar!
Oh! que repulsa que tenho
Da droga da minha vida,
Durante a infância oprimida
Que não quero viver nunca mais!
Que horror, que pobreza, que dores,
Daquelas minhas canseiras,
Trabalhando nas carvoeiras
Para ajudar os meus pais!