A VIDA

 

 

Tudo transita à roda dos dias.

Somos fluidos, águas do riacho,

frágeis como papel, incertos tal como o soprar do vento Norte.

 

O que da vida retemos nós?

Fragmentos de memórias, apenas.

Vozes distantes, ecos bruxuleantes, canções perdidas nas lembranças de fogueiras acesas à noite, quando bebíamos vinho barato e bendizíamos o nosso furor do sangue jovem e ardente.

 

Hoje celebramos esta existência que apesar de tudo é o que temos...

... Mas só a possuímos agora!

A morte é uma Dama num cavalo preto que um dia virá.

 

Sei da cor dos olhos de Maria.

São castanhos, duas avelãs num rosto ovalado e indecifrável.

Lindos são os olhos de Maria!

 

Mas que outra convicção então eu teria?

Se pudesse crer ao menos no teu amor,

Esta confissão desleixada, nas horas desvairadas de lascívia e desejos!

Eu saberia, se me amasse na calmaria dos beijos, nas carícias nos cabelos, nos risos e gracejos...

 

Roda a roda dos ventos.

Move as rodas dos moinhos.

Orações, procissões e cata-ventos!

Porque nada é para sempre

O tempo tem lá os seus "porquês "

 

Somos fluidos, águas do riacho,

frágeis como papel, incertos tal como o soprar do vento Norte.

 

Com as horas vão-se os amores.

Os medos, as dores

As canções e os silêncios

O Tudo, o Nada, o Viajante e a Estrada.

 

De todas as coisas, vivas ou inanimadas

o poeta cria e recria as palavras.

Do solo duro as colhe, as ara,

Livres, soltos, os seus versos...

Cadenciados ou de odes bem rimadas.

O poema, este sagrado emblema, inspirado em paixões alucinadas e em pecados inconfessos.

 

 

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