Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma

A esta tortura de homem e de artista:

Desdém pelo que encerra a minha palma,

E ambição pelo mais que não exista;

 

Esta febre, que o espírito me encalma

E logo me enregela; esta conquista

De idéias, ao nascer, morrendo na alma,

De mundos, ao raiar, murchando à vista:

 

Esta melancolia sem remédio,

Saudade sem razão, louca esperança

Ardendo em choros e findando em tédio;

 

Esta ansiedade absurda, esta corrida

Para fugir o que o meu sonho alcança,

Para querer o que não há na vida!