És tu quem me conduz, és tu quem me alumia,

Para mim não desponta a aurora, não é dia,

Se não vejo os dois sóis azuis do teu olhar.

Deixei-te há pouco mais dum mês, – mês secular

E nessa noite imensa, ah, digo-te a verdade,

Iluminou-me sempre o luar da saudade.

 

E nesses montes nus por onde eu tenho andado,

Trágicos vagalhões dum mar petrificado,

Sempre adiante de mim dentre a aridez selvagem,

Vi como um lírio branco erguer-se a tua imagem.

 

Nunca te abandonei! Nunca me abandonaste!

És o sol e eu a sombra. És a flor e eu a haste.

Na hora em que parti meu coração deixei-o

Na urna virginal desse divino seio,

E o teu sinto-o eu aqui a bater de mansinho

Dentro em meu peito, como uma rola em seu ninho!

 

Guerra Junqueiro, in 'Poesias Dispersas'