Cemitério particular
Apresento-me a todos, podem me chamar de coveira,
de bom grade aceito a alcunha.
No meu cemitério particular,
enterro esperanças, sonhos, desamores,
e tantas outras versões de mim
que hoje não mais reconheço.
Antes mesmo de ser começo,
sou o fim.
Dia e noite incansável, pá na mão,
suor no rosto e costuras remendadas no coração,
trabalho, cavo,
vez ou outra, faço uma oração.
Ouço remexer nas covas,
sonhos que orei para vivessem,
amores que chorei para que fossem vividos.
Prematuros, se foram cedo.
Me permito chorar, mas não demoro contudo,
mais uma cova preciso cavar,
para enterrar o meu grito mudo.