CENA CONTEMPORÂNEA.

 

Eu vi o pobre velho esfarrapado
– Cabeça branca – sentado pensativo
Dum carvalho ao pé;
Esmolava na pedra dum caminho,
Sem família, sem pão, sem lar, sem ninho,
E rico só de fé!

 

Era de tarde; ao toque do mosteiro
Seu lábio a murmurar rezava baixo,
– Ao lado o seu bordão;
E o sol, no raio extremo, lhe dourava
Sobre a fronte senil a dupla c’roa
De pobre e de ancião!

 

E o homem de metal vinha sorrindo
Contando ao companheiro os gordos lucros
Na usura de judeus;
O mendigo estendeu a mão mirrada,
E pediu-lhe na voz entrecortada:
– Uma esmola, por Deus!

 

O homem de metal embevecido
Em sonhos de milhões, por junto à pedra
Sem responder, passou!


O pobre recolheu a mão vazia…
O anjo tutelar velou seu rosto
Mas – Satanás folgou!

Rio – 1858.