Descamar

Lembro nitidamente da época

Que minhas palavras tinham

O mesmo gosto das suas

Como se elas fossem mais suas

Do que minhas próprias palavras

Lembro nitidamente de ver

Tudo ao meu alcance, porém

As coisas não tinham as cores

Que obtinham ao passar

Pelos filtros das minha

Noção e percepção

Exclusivas minhas

Pelo contrário, elas tinham

Cores parecidas com aquelas

Pintadas com os filtros

Da sua noção de mundo

Tenho claras lembranças

Das sensações e experiências

Bombardeando minha pele

No entanto, não consegui sentí-las

Era como se tocassem uma pele

Logo acima da minha

Em íntimo contato com ela

Impedindo minha comunicação

Com o meio externo

Me olhei no espelho e vi

A escama que intermediava

Meu contato com o mundo ao redor

Falava o que ela falava

Via o que ela via

Sentia o que ela sentia

Vivia de acordo com o que ela

Captava e interpretava da vida

Em dado momento, minha vontade de viver

Foi proporcional à minha crescente coragem

Fiz um movimento em desacordo

Com a escama, e a furei

Fui seduzido pelo calor e pela umidade

Do lado de fora, rompi ainda mais a escama

Sobre mim mesmo

Tornei-me uma nova pessoa

Independente de qualquer

Retenção e manipulação

De estímulos, olhei para trás

Vi a escama caída no chão

Pálida, mole, desprovida de

Vitalidade

Observei aquela monstruosidade

Enquanto eu ostentava vigor

Evidente depois de se livrar

De estrita relação

De parasitismo

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 09/09/2023
Código do texto: T7881539
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.