Neste momento da mais pura agonia
Meu choro se mistura com a alegria,
O choro é pelo passado fúnebre
Repleto de marcas da deusa Vênus,
E a alegria por pelo menos
Poder ter sentido o mínimo
De prazer na vida.
Sinto pena,
Uma estranha piedade
Das pobres almas
Que aceitam a continuidade
Sem contestar a realidade.
E que no momento da mais pura satisfação
Gritam de alegria e emoção
Mas então na hora da tristeza,
Da dor em que o corpo apodrece
Simplesmente choram e gemem
Ou rangem os dentes.
Rezam suas preces,
Conteste!
E os testes
E a vida escravizante do trabalho
Nos prédios e nas metalúrgicas
Que deixam a nossa face e nossas roupas
Sujas de preto nos condenam
Ao destino digno humilhante.
E agora, cansada do famigerado capitalismo,
Com pensamento marxista eu grito:
Eu queria só um pouco de socialismo.
E agora,
Com medo da miséria socialista,
Eu grito sozinha:
Deus me livre do fracasso marxista!
Deus me livre de subir na bicicleta ao meio dia
Em meio ao trânsito da avenida
Sofrendo a humilhação de cada dia.
Deus me livre das contas atrasadas na gaveta
E de morar na rua de uma favela!
Deus me livre dos tiros, dos gritos,
Das brigas pela falta de dinheiro,
Eu não quero mais ter que chorar
Sozinha trancada do banheiro.
É tanto grito, é tanto tiro, é tanta morte
Que eu já nem sei se alguém no mundo
Ainda tem sorte!
Que Deus abençoe os conformados
E aqueles que aceitam tudo
Para que deixem de ser escravos.
Deus me livre
De continuar esfregando esse chão
Em troca apenas da mais pura desilusão
E de ser governada
Por esse sistema totalmente escravagista,
Eu confesso, eu quero ser burguesa
E não mais ser pobre e oprimida.
Neste momento da mais pura agonia
Meu choro se mistura com a alegria,
O choro é pelo passado fúnebre
Repleto de marcas da deusa Vênus,
E a alegria por pelo menos
Poder ter sentido o mínimo
De prazer na vida.
Jamila Mafra
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