Mel e Canela
Oh, desventurosa madrugada,
Pôs-me aqui ao holocausto,
De minutos intermináveis,
E passos arrastados.
E da janela um sussurro,
Mudo, vazio e angustiado,
Minha voz de outro mundo,
Meu antigo pecado.
De minutos intermináveis,
De um início estagnado,
Seus lábios sussurram,
Um desejo já acatado.
Veio angustiar-me de verdade;
Como um passado desfigurado,
Refugiar-me a vontade;
Com um ímpio regalo.
Pensei que resistirias as marés,
Quando lhe deixei partir,
E que as ondas incapazes,
Não te afastariam de mim.
E então esperei,
Mesmo que não saiba,
Por dias a fio,
À beira da praia.
Enfim pude sentir algo,
Ao longe de ser vago,
De gosto amargurado,
Mais que memorável.
E do passado uma minucia,
Pois meu toque lhe faltou,
Meu abraço foi-te vazio,
E minha poesia insuficiente.
Sem nos perder em abraços vazios,
Sem seguir o ritmo do nada;
E nos perder em carícias sem sentido.
Estou por fim perdido
Sem esperanças, ouvindo
Sua última canção.
De todo meu vazio,
Apenas eu.