DEPOIS DE ONTEM
DEPOIS DE ONTEM
Depois de ontem
esse inverno que se adensa e desacelera as horas
ainda há pouco era a barbárie e sua pungente incivilidade
não faz muito era o choque de nefasta conjugação
procuro a estrada contrária
à que envergou meu corpo até a supressão da sua quintessência
depois de ontem: sobrevivências
de todos os gritos o menos prolixo é o que não foi emitido
hoje é a reminiscência: acorde que trepidou e ainda vibra
até o instante e a palidez do que não se eterniza
ah de aço o ideal de um coração perfeito
quem me dera desde agora estar refeito
em quais mãos se abriram as cartas do meu destino?
em qual incidente o prenúncio se perdera?
de músculo a fragilidade de um coração inteiro
em suas dobras e labirintos o uivo faminto de uma espécie em extinção
depois de ontem o pouso incerto mirando a trégua
que se fará pulmão e também se fará vértebra
para enfim repetir o pulo na abismática incerteza de outra direção