MÁGOA
Por que acreditar, se a fé mentiu pra mim?
Por que me iluminar, se jamais alguém me deu a luz?
Onde anotar os escritos que não justificam meu fim?
Se eu dei as águas ao rio, que agora minha amargura conduz!
Como descer aos infernos, se as entradas do céu eu paguei?
Como aceitar os espinhos, que perfuram minha inocência?
Como viver do amargo fruto, que em tempo algum semeei?
Como aplaudir a ironia, que me insulta a inteligência?
Céu - quem te fez mais azul do que eu?
Mar - quem em tuas ondas, mais sincero navegou?
Cartas - quem, no sangue da franqueza, mais te escreveu?
Ódio - quem em nome do amor, mais te ignorou?
Caiam no ar todas as questões sofridas, onde deliro;
Cantem e dancem, os iludidos risos primeiros do desprezo;
Há de rir no fim, a última reação desse meu magoado suspiro;
Pois sorrirá melhor toda injustiça que um dia eu esqueço!
E que as chuvas arrastem minha solidão
E que eu morra no mundo em que nunca habitei
E que vague no céu uma nova canção
E que hajam flores no peito sofrido, onde antes amei!