Partida
Esta manhã, acordei de coração partido
E a sensação foi tão estranha
Pois pensei que já o havia deixado partir-se eras atrás
O que não percebi
Foi que segurei nas mãos os cacos
Permitindo que, pontudos, me sangrassem os dedos
Apertando-os firme para não ouvir o baque
Que ecoaria em meu peito vazio quando atingissem o chão
Só que agora, me distraí, por apenas um segundo
De repente, tudo era pesado demais
E caiu... como se não me pertencesse (mentira!)
Caiu... como se eu não o controlasse (verdade!)
E meus dedos puderam enfim sentir a dor
Anestesiada por tantas eras de pressão
Agora, sou um peito vazio e dedos dilacerados
Sou lágrimas que caem quando querem, como querem
Sou tudo aquilo que não me permiti sentir
Quando da primeira vez foi rejeitado meu coração intenso
Sou tudo aquilo que não precisaria doer em dobro
Se ao menos eu houvesse entendido da primeira vez
Agora, sou um pote vazio que usou a própria doçura
Para encobrir as palavras amargas de um falso amante
Sou um espelho embaçado que enfeou o próprio reflexo
Na tentativa fútil de tornar um outro belo
Sou tudo aquilo que acontece nas histórias
Com personagens que pareciam muito mais tolos
Mas que amaram exatamente do mesmo jeito que eu
Sou uma última gotinha de amor-próprio que restou
E que vai ter gosto de veneno em seus lábios caso decida voltar
Os cacos do meu coração?
Viraram poeira
Pavimentarão estradas
Que outros usarão em melhores jornadas
E eu, dolorida, marcada
E ainda assim intensa, sempre intensa
Finalmente estou livre