Traidor
Todas as paredes do castelo
Se puseram a sussurrar a palavra traidor
E eu levei tempo demais para entender
Que estavam falando de você
Agora, quase sinto pena quando penso
Que ainda acredita que são reais
Os sorrisos debochados que lhe dirigem
Todos que vivem sob a proteção das muralhas o odeiam
E suponho que acredita que vale a pena
Pois conseguiu fazer com que o rei o ame
Bem… o rei será decapitado logo
E nem mesmo todas as coisas que vivemos
São capazes de me fazer interceder
Para que a sua cabeça não caia junto
A única coisa mais triste
Que perceber que não o amo mais
Foi entender que não o admiro
Foi levantar a mão e bater mentalmente na testa
Ao aceitar que cada palavra que escorrega da sua boca
Serve apenas ao propósito de massagear um ego
Do qual ninguém mais tem interesse em se aproximar
Você acredita tanto em sua própria virtude
Mas esqueceu que o motivo crucial
Para chamarem de heróis os aliados do rei
É que quase sempre são os reis
Que contratam os contadores de histórias
Quando é o povo que escreve
Não vai lhe sobrar nenhum lugar de honra
Só resta ouvir seu sangue pingar
Assistir cada gota de orgulho evanescer
E lembrar que embora agora habite seu corpo
Você não é a pessoa que um dia amei
Com certeza não é a pessoa que um dia admirei
E não tem ninguém a culpar além de você
Exceto talvez aquele que insiste em chamar de rei
Que o afastou de todos que um dia viram esperança em sua ascensão
Agora as paredes sussurram adeus
E a única lembrança que a História guardará de você
É um poema chamado traidor