A FLUIDEZ E EVANESCÊNCIA DA VIDA
Em tudo o que fazemos
Há uma sensação de transitoriedade.
Um processo recém-inaugurado
Já traz em si o germe do inevitável:
A sua inclinação para se findar e se consumar,
Abrindo espaço para novos percursos,
Como um caminho que não tarda
A ser completamente descortinado e percorrido.
Não há nada nesse mundo
Que se mantém perpétuo e fixo,
A não ser a perpetuidade da evanescência.
Estamos todos vulneraveis
A fluidez do efêmero e do passageiro.
Vivemos assim uma quimera
Justamente porque a qualquer hora
Iremos já não ser.
O que construímos é apenas
Um fragmento semeado no tempo,
Pois em tudo se revela
Os sinais do envelhecimento e da mutabilidade.
Não podemos entrar duas vezes
No mesmo rio, já dizia Heráclito.
E tal como o próprio rio:
Fluimos enquanto é possível durar.
A cada dia uma parte de nosso ser se transforma
E nos movimentamos de forma incessante
Nessa temporalidade.
Participamos todos de uma perene mudança
Até o fim de nossos dias na terra.
Viver é antes de mais nada uma preparação
Para a apoteose do fim de nossa existência.
Somos também como uma chama numa vela:
Fluindo com sua combustão, verticalmente.
Como a vida, ela aos poucos se consome e se extingue
Juntamente com a sua exuberante luminosidade.