Menos pátria e mais gente
Eu nunca serei patriota, enquanto existir famintos.
Nunca levantarei uma bandeira enquanto existir desabrigados.
Nunca direi além, enquanto pessoas estão se matando de trabalhar por trocados e seus patrões vivem vidas luxuosas.
Nunca me sentarei na mesa dos restaurantes grã-finos, nem beijarem a menina glamourosa, enquanto mulheres são espancadas pelos seus maridos ciumentos.
Não me verão em Roma ou Paris, enquanto não atravessar o Sertão do Ceará a cavalo, as serras de Guaramiranga de mochilas nas costas e as areias de Itarema ou Batoque.
Não me verás orando para Deus, cantando louvores ao vento, enquanto meus amigos punks não são ouvidos, os seus gritos, seus desejos não são atendidos.
Não serei interlocutor das mil maravilhas das estrelas do mundo, enquanto nas ruas, moradores catam lixo, dormem nas calçadas, são invisíveis.
Desistirei sim, apagarei meus rastros com certeza, mas não serei escravo da realeza. Destravarei os meus sentidos e descobrirei para onde ir.
Uma cerca vistosa me espera, nela a ilusão, a enganação. Não existe no outro lado o paraíso. Nos enganaram. A vida não é eterna, mas ela é sedenta.
Condições agradáveis em dias chuvosos. Grupos entediados e aparentes seres celibatários, sofrendo a solidão de serem rejeitados.
Pix, metal no bolso, compreensão da minha necessidade de ir mais e mais a um caminho inverso do apocalipse pregado no caos do fim.