MAL-ENTENDIDO

meu estômago está bêbado

mas na mente não tem uma gota

uma agonia misturada à náusea

como um sacolejo no barquinho

no mar do bom marinheiro

ressaca de sobriedade

tanto amor puro pelo ralo

arrastado junto com o chorume

assentado pelos nossos egos

azulejos encardidos da paixão

um desperdício sacal de sentir

outro maior ainda de verdades

saber onde teu coração mente

é desconhecer onde eu minto

tanta carne despedaçada aos anos,

rasgada nos murros dados no destino

tingidas por vestígios do que pudemos

facas amoladas de propósito

uma teimosia safada sem sentido

projetinho de poder de miseráveis

saber de tudo que tu mente

é comiseração perpétua minha

tanta matéria atravessada por nada

jornada cármica sem redenção no fim

mal-entendido pago de graça

conta que não podia mais ficar no fiado

um papelão escroto cheio de sentido

de interpretações, de sacrifício

saber o que tu não pode mentir

é ver todas as fraturas da minha alma

André Resende
Enviado por André Resende em 20/05/2023
Código do texto: T7793022
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