Lapso
O sono fugiu
A esperança deu um tempo
A nostalgia ganhou espaço
A vida muda a cada momento
Já não quero varrer a casa
A mala ficou guardada
Meus livros mofaram
O pão passou da validade
A felicidade foi morar na casa ao lado
A vizinha quer um muro farpado
As fotos estão desfocadas
O ladrão saltou pelo muro alto
Deixou marcas sujas no branco tão caprichado
A câmera não filmou nada
Minha camiseta preta favorita está manchada
Os poetas mortos são os que mais me fascinam
Chamam-me de romântica desvairada
O amor não suportou a dor
A alegria fugiu pela porta
Que descuidada esqueci aberta
A desilusão tornou refrão
Meu passarinho sem os filhos
Ainda volta para o ninho vazio
Cuido da grama, do jardim
Meu hibisco brota
Meu jasmim cresce
Só não brota em mim
Só não brota em mim
Lapso de memória disfarçado
Temporariamente
Não sei a palavra exata
Talvez uma chícara
De um doce alecrim
Possa ajudar a me lembrar
Acho que faltam as nuvens
Com desenhos de algodão
O correr descalço
Para um abraço apertado
Um banho de chuva
Um curativo no coração
Um colo demorado
Ofertado sem restrições