Lapso

O sono fugiu

A esperança deu um tempo

A nostalgia ganhou espaço

A vida muda a cada momento

Já não quero varrer a casa

A mala ficou guardada

Meus livros mofaram

O pão passou da validade

A felicidade foi morar na casa ao lado

A vizinha quer um muro farpado

As fotos estão desfocadas

O ladrão saltou pelo muro alto

Deixou marcas sujas no branco tão caprichado

A câmera não filmou nada

Minha camiseta preta favorita está manchada

Os poetas mortos são os que mais me fascinam

Chamam-me de romântica desvairada

O amor não suportou a dor

A alegria fugiu pela porta

Que descuidada esqueci aberta

A desilusão tornou refrão

Meu passarinho sem os filhos

Ainda volta para o ninho vazio

Cuido da grama, do jardim

Meu hibisco brota

Meu jasmim cresce

Só não brota em mim

Só não brota em mim

Lapso de memória disfarçado

Temporariamente

Não sei a palavra exata

Talvez uma chícara

De um doce alecrim

Possa ajudar a me lembrar

Acho que faltam as nuvens

Com desenhos de algodão

O correr descalço

Para um abraço apertado

Um banho de chuva

Um curativo no coração

Um colo demorado

Ofertado sem restrições

Madame Butterfly
Enviado por Madame Butterfly em 06/04/2023
Código do texto: T7757776
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