O HOMEM SÉPIA

Parado na rua noturna

Apenas uma sombra sentada

No ponto do ônibus que ruma

No fim de mundo da sua casa

As mãos paradas, sem música, sem conversa

Estrada de terra, os carros passam de forma remota

Matagal à esquerda e à direita o isolam como uma ilhota

O que ele procura? Além do seu ônibus, o que o interessa?

O homem sépia

Raspa os sapatos na areia, tentando desenhar algo

Um avião passa, as árvores dançam, um pintinho pia

Nada o distrai de continuar distraído com tudo ao seu lado

Nada lhe rouba a proeza - maior que a de muitos - de pensar no nada

De olhar pro nada, de ignorar tudo

Os olhos parados seguem como um imã tudo o que passa

Pela rua em raros momentos. Ele se perdeu de seu mundo

Há tempos em que quanto mais você se procura, mais você se perde de si

Se procurar gera esperança, mas também gera uma temporária dissociação de quem você é

Ele tenta dizer algo mas resiste, pensou ter encontrado ali

- Na remota rua, o sentido mais íntimo da vida, ele fica em pé

O que ele pensa ser o sentido (ou um propósito) desmorona diante dos seus olhos escuros

Ilusão destruída, agora ele está novamente vazio, procurando um sentido mais nobre e profundo

Não há nada pra sentir, só o amargor de uma ilusão refutada, e a busca infindável de seu desejo puro

De se encontrar, de não ser mais um sem identidade, NPC moribundo

Infringido o silêncio desse ser introvertido puro e absoluto, atraente

Seus lábios cor de mel expressam lentamente as vozes da subconsciência, sempre dizendo a verdade:

Os mais intrínsecos desejos humanos. "Onde está a minha solidão persistente?

Até onde terei que ir para encontrá-la? Você está me chamando a um bom tempo, vem buscar a sua metade."

Natalia L A
Enviado por Natalia L A em 30/03/2023
Código do texto: T7752453
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