O HOMEM SÉPIA
Parado na rua noturna
Apenas uma sombra sentada
No ponto do ônibus que ruma
No fim de mundo da sua casa
As mãos paradas, sem música, sem conversa
Estrada de terra, os carros passam de forma remota
Matagal à esquerda e à direita o isolam como uma ilhota
O que ele procura? Além do seu ônibus, o que o interessa?
O homem sépia
Raspa os sapatos na areia, tentando desenhar algo
Um avião passa, as árvores dançam, um pintinho pia
Nada o distrai de continuar distraído com tudo ao seu lado
Nada lhe rouba a proeza - maior que a de muitos - de pensar no nada
De olhar pro nada, de ignorar tudo
Os olhos parados seguem como um imã tudo o que passa
Pela rua em raros momentos. Ele se perdeu de seu mundo
Há tempos em que quanto mais você se procura, mais você se perde de si
Se procurar gera esperança, mas também gera uma temporária dissociação de quem você é
Ele tenta dizer algo mas resiste, pensou ter encontrado ali
- Na remota rua, o sentido mais íntimo da vida, ele fica em pé
O que ele pensa ser o sentido (ou um propósito) desmorona diante dos seus olhos escuros
Ilusão destruída, agora ele está novamente vazio, procurando um sentido mais nobre e profundo
Não há nada pra sentir, só o amargor de uma ilusão refutada, e a busca infindável de seu desejo puro
De se encontrar, de não ser mais um sem identidade, NPC moribundo
Infringido o silêncio desse ser introvertido puro e absoluto, atraente
Seus lábios cor de mel expressam lentamente as vozes da subconsciência, sempre dizendo a verdade:
Os mais intrínsecos desejos humanos. "Onde está a minha solidão persistente?
Até onde terei que ir para encontrá-la? Você está me chamando a um bom tempo, vem buscar a sua metade."