O Fantasma da Simulação

O azul se faz presente

Em todas as direções

Vistas por mim

Um mais escuro ao norte

Outro mais claro ao sul

Porém ele sempre é

Constante

Ele toma de mim

O sabor, o gosto

A diversão, a risada

E o prazer

Tudo o que saboreio

Ouço

Toco

Vejo

Cheiro

É só azul

Um dia, no entanto

Tropeço e dou de cara

No chão

Levanto-me

Minha visão está rachada

Tal qual vidro quebrado

Um canto discreto rachado

Deixando uma luz amarelada entrar

Levanto a mão

Tento quebrar mais

Para ver mais amarelo

Porém o vidro se regenera

E recompõe

Voltando a me iluminar

Com o azul

Espere…

Essa visão azul

Não é de minha autoria

Eu não quero ela

Eu não fabrico ela

Eu não desejo ela

Olho para mim mesmo

E vejo braços sobre braços

Pernas sobre pernas

Tronco sobre tronco

Um abdome que restringe minha barriga

E minha fome por comida

Um tórax que restringe minha respiração

E a fome espiritual

Do meu coração

Me faz sentir frio

E anestesia

Mesmo nos dias mais quentes

E mais vivos

Me faz ver

Apenas o que ele quer

Que eu veja

Decidi combater essa fumaça azul sobre mim

Ateando fogo em mim mesmo

Uma chama alimentada

Por tudo o que ele teme

E faz de tudo

Para evitar

Ele gritou dentro de mim

Disse para parar e apagar

Mas não dei ouvidos

Apenas fechei os olhos

E deixei a chama queimar

Até o fim

Quando ela acabou

Não senti mais frio

E minha visão foi habitada

Somente pelo

Amarelo

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 28/03/2023
Código do texto: T7751194
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