Obnubilado

Com o coração dilacerado,

sobrevivo com sobejos do amor a mim outrora confiado.

Obnubilado, procuro memórias tortuosas àquelas que deveria ter deixado de lado.

Desgraçado. Assim fiquei desde que descobri que as juras de amor eram simulacros.

Desafortunado. Incapaz de seguir adiante sem lembrar dos seus olhos marejados.

Dissimulado. Lágrimas? Não. Ópio. Veneno destilado.

Sete tipos de simpatia tenho realizado,

capim-guiné, incenso, leite derramado,

seu nome a dois palmos em um buraco cavado.

Nove promessas aos santos fiz de joelhos dobrados.

Tudo em vão, pois não consegui esquecer teu sorriso amarelado

e a vermelhidão dos teus lábios carminados.

Obnubilado, não consigo me mover para o lado.

Alma calcificada, coração sem sangue bombeado...

Preso em uma cela com menos de dois metros quadrados,

escuridão sufocante que me impede de ver o céu estrelado.

Trancafiado. Grito na esperança de ser encontrado.

Amarrado. Busco formas de me rastejar à saída e ser resgatado.

Ludibriado. Tento não me afogar no mar de lágrimas do passado.

Chega de "dô" e de "dó", esse ritmo maldito que me manteve em cativeiro,

O tempo não para, não espera pelos abatidos o dia inteiro,

Eu preciso encontrar um novo sentido,

Deixar pra trás as lembranças doídas,

Buscar novas histórias ainda não vividas.

Obnubilado por tanto tempo, enfim vejo a luz,

Sigo em frente, na esperança de um novo começo, uma nova cruz.