Mulher-peixa

Durante aquela noite

Meus olhos encontraram com os seus

Faísca pura saiu dali

Reconhecimento de algo que já tinha acontecido

Resolvemos aceitar o inegável

Naquele momento de entrega

Não sabíamos nada um do outro

No fim da noite eu não queria te deixar

Não sabia do seu enorme ego

Vc não sabia da minha grande cicatriz

Só pensamos no encontro de olhos

Simbiose

Um dia vc me fez chorar

Depois disso nunca mais meus olhos ficaram secos

Juntos queimávamos

E separados brigávamos

Vc constantemente louco

Fúria que eu não conhecia

Quis te curar

Queria te ver sarado, ser seu sal

Percebi que enquanto eu te dava oxigênio

Vc sugava meu ar

Como pode doer?

Era pra ser bom

Vc não sabia o que era amor

Nem sabia amar

Era tudo sobre vc

Nada sobre mim

Nada pra mim

Eu tinha de me amalgamar a vc pra ser vista

Porque vc só gostava de vc mesmo

Muitas vezes eu fingi não ter voz

Assim vc só ouvia seu próprio som

O único barulho que vc queria ouvir de mim eram os gemidos

Será que vc aprenderia a me amar

Primeiro eu neguei

Depois esperei

Como um peixe no anzol

Parei de debater

Pra não me rasgar inteira...

Eu já tinha tentado me afastar

Negar tudo, seria negar a minha existência

Eu já tinha sumido dentro de vc

Vc sentiu quando eu fiz isso?

Vc reconheceu algum incômodo?

Minhas amigas tentaram me puxar pra fora

“Volte aqui”, elas diziam!

“Não se perca dentro dele”, elas gritavam!

Mas eu não saía mais, estava mergulhada em vc

Nadei pela sua artéria fui até seu coração

Num ato desesperado, eu espetei agulhas em vc

Na tentativa de te fazer sentir, eu te magoei

Somos dois desastrados

Eu não queria a apatia

À anestesia, preferi a dor

Então o que eu sinto hoje é isso

Eu me fiz pequena pra caber em vc,

Nadei dentro do seu corpo

E de sereia tornei-me mulher-peixa

Nadando dentro do homem-aquário

Flávia da Silva
Enviado por Flávia da Silva em 17/03/2023
Código do texto: T7741913
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